O espetáculo estuda a linguagem do palhaço inserido dentro da relação dramática do teatro. Nele dois soldados inimigos, exibindo suas armas fantásticas, xingamentos bárbaros e métodos incrivelmente ineficazes, vivem a rotina de uma batalha. Na busca pelo poder e pela vitória acabam ,ferindo inocentes que nada tem a ver com a guerra que é comum aos dois. Permeado por esquetes clássicas do circo e pelo jogo do palhaço, a peça Neurastenia trata dos conflitos humanos, dos relacionamentos e da falta de diálogo, tudo isso de forma leve e despretensiosa, com uma mensagem arrebatadora.

A pesquisa para o espetáculo surge das inquietações produzidas através do contato dos envolvidos com a produção literária do poeta inglês Jhonn Done, sobretudo no que se refere à chamada “Nenhum homem é uma ilha” em aplicação como uma resposta á mazela que o discurso de ódio produz na sociedade. O projeto nasce do conceito e do princípio de que “todos somos semelhantes”. Partindo de pressupostos abordados e aprofundados por Jhonn Donne, a pesquisa busca o diálogo entre a projeção do “eu” a partir do olhar do “outro”, da realidade e das diversas formas com que esta projeção atua como alienadora do sujeito. Ao mesmo tempo, o universo cômico do palhaço e suas interpretações servem como via régia para a criação imagética, sensorial e abstrata do trabalho que leva o público a se colocar no lugar dos personagens e dividir com eles o dilema de viver em sociedade. Se existem dois lados, a verdade está no meio.

Para falar da nossa pesquisa começamos citando Erminia Silva: "Além disso, o modo de organização da teatralidade circense em seu modo como circo-teatro levava a todas as cidades: gêneros teatrais diversos; ritmos musicais; a dança na sua diversidade, desde a chamada clássica àqueles modos ditos populares[...]O espetáculo circense[...]responsável pela divulgação e visibilidade das principais expressões artísticas nacionais e estrangeiras." Impulsionados pelo desejo de fomentar a linguagem do circo-teatro e a Comedia Dell’Arte, e resgatando esquetes clássicas da figura do palhaço, a trupe se dedicou á pesquisa e apresentações do espetáculo Neurastenia. Nosso espetáculo propõe ao público, através da lente da comicidade e utilizando-se de esquetes clássicas do circo-teatro, oportunidade de reflexão. Isso garante ao espetáculo agradar a diferentes públicos. É um espetáculo que por tratar com leveza os temas comuns e ordinários das nossas vidas, torna-se contemporâneo pelo seu despojamento e intuição crítica. Seguindo a linha e a figura do palhaço latino e também do brincante brasileiro, os atores se dispõem a encarar este ritmo de pesquisa e de criação dos textos e cenas, expondo situações extravagantes e absurdas, fazendo assim com que o público se envolva e se perceba ou se imagine em tais situações, iniciando o espetáculo tratando da busca pelo poder, transitando pelos abuso dos limites nos relacionamentos interpessoais e ao desejo de sucesso, mostrando através do discurso cômico que não é possível fazer nem mesmo a guerra sozinho.

Nesses anos circulando com o espetáculo, de teatros importantes a escolas de periferia, temos entendido algo importante: a temática da violência precisa ser tratada com urgência, amplitude e diversidade de dialogo. Foram mais de 30 apresentações, com espaços cheios e vazios, com média de publico de 100 pessoas. Durante toda essa caminhada aprendemos a ouvir a platéia e a atender suas demandas sobre o discurso do ódio, vivendo a troca que o teatro exige para ser integro. Assim, nem nós que apresentamos, nem eles que assistem, saem ilesos do nosso encontro espetacular.

Com o espetáculo Neurastenia, a Trupe de Festim realizou apresentações em diversas cidades de São Paulo. Além da capital, também apresentou no SESC Piracicaba, SESC Bertioga (todos os sábados de setembro/2019), Arujá, Suzano, Mogi das Cruzes e Sorocaba. Apresentou também fora da cidade no Avalanche Festival de Artes 2018, em Vitória (ES). Realizou uma curta temporada no Espaço Parlapatões, em São Paulo (Agosto/2018), e também participou do Festival Satyrianas. Em julho de 2019, circulou por 10 Bibliotecas Municipais de São Paulo/SP no projeto Biblioteca Viva e, nesse mesmo ano, se apresentou no Festival de Inverno de Paranapiacaba. Em janeiro de 2020 o espetáculo fez uma temporada no Teatro Colinas, em São José dos Campos, depois realizou apresentação na Escola de Arte Ousadia, em Mogi das Cruzes. Sua última apresentação com plateia foi no Festival Risamor, e depois, já na pandemia, no Festival A Graça da Rua Online, ambos realizados na cidade de Mogi das Cruzes.

Visamos com apresentações gratuitas, em espaços abertos, possibilitar e ampliar o acesso a arte e cultura, a reflexão e ao entretenimento.

A formação ocorreu no final de 2016, com o reencontro dos atores e palhaços ALBERTO VIZOSO, DARLAN FILÉ JÚNIOR, JUNINHO MACHADO e THIAGO CARDOSO no “Terra dos Palhaços”, evento bienal que acontece em Arujá/SP. Desde então seguimos pesquisa contínua do espetáculo (que iniciou em 2018) e da linguagem do palhaço.