Aldir Blanc
Edital nº 019/2020: Projetos Culturais

PROJETOS CULTURAIS 1
Projetos pequeno porte

Classificado 8º Selecionado 37,00 pontos Premiação R$ 5.000,00

  • Ateliê Achadouros – Um ateliê ambulante de Achadouros de Infância

    Proponente: Vanessa de Oliveira Silva

  • Neste projeto apresentamos a experiência de um espaço itinerante para o resgate da memória da infância. Em tal espaço, através da atividade artística, torna-se possível recordar lembranças, compartilhar segredos, cultivar sonhos e desejos. Espaço-lugar que permite a construção de um olhar sensível para as histórias de cada um. A partir do nosso levantamento teórico e inspiradas pelas poesias de Manoel de Barros, construímos um ateliê ambulante em formato de carroça, “Ateliê Achadouros”. Nessa sintonia, alinhamos o objetivo de retomar por meio da arte, da brincadeira, da roda e de estímulos sensoriais as memórias de infância que estão guardadas dentro de nós e as influências que reverberam até hoje como adultos. Na composição de todos esses elementos, criamos um lugar de acolhimento das individualidades, das subjetividades de cada um de nós, verdadeiros tesouros.
    A prática se inicia com o grupo carregando uma carroça equipada com muitos materiais artísticos, além de quitutes, objetos, plantas, enquanto uma das pessoas puxa uma melodia na sanfona. Uma música de chamamento tocada na sanfona e em alguns instrumentos de percussão. Essa é a música que atrai as pessoas conduzindo-as com a carroça-ateliê até o local onde os tapetes serão abertos. Enquanto montamos os espaços artísticos nos tapetes, uma música de chegança é entoada. Depois do ateliê montado em cada canto, convidamos os espectadores a brincar com cantigas de roda para soltar o corpo e abrir aquela parte do coração em que as memórias estão guardadas. Em cada tapete uma estação diferente, com o intuito de possibilitar diversas experiências aos envolvidos na proposta de brincar e recuperar memórias. Os participantes podem circular pelos cinco tapetes e escolher aquele que mais lhes agrada. Na costura, em meio a agulhas, barbantes e tecidos. No espaço com elementos da natureza, com pedrinhas, galhos, conchas e folhas. Na estação dos materiais não estruturados, com madeira de diferentes tamanhos e formatos e materiais recicláveis. Colorindo com aquarela, ou também explorando massinha caseira. Todos os tapetes são permeados por cantigas tradicionais tocadas na sanfona, e após determinado tempo, uma ou duas horas, cantamos a despedida. No Canto da despedida, começamos a recolher os materiais do ateliê gentilmente enquanto cantamos e nos despedimos das pessoas, guardando tudo na carroça e indo embora. Dentro de nossa proposta de cavar achadouros, o alimento é uma parte imprescindível. O alimento contém o ato de comungar com os demais, de dividir, celebrar e agradecer. No nosso caso não estamos falando do alimento pronto que vem da natureza como uma fruta, ou do alimento industrializado que basta abrir o pacote e consumir. Falamos de um alimento preparado por alguém, uma receita de família, que foi passada de geração a geração, escrita ou guardada no coração.
    Esse projeto de intervenção urbana surgiu a partir de uma pesquisa acadêmica onde fomos instigadas a partir de questões pessoais e como artistas educadores. Como podemos acessar e recuperar campos da infância em cada um de nós? Ao longo dessa pesquisa propusemos uma jornada para a infância, retomando as memórias e os porquês do que somos hoje. Será que somos reflexo de nossas infâncias? Será que as memórias podem ser despertadas através da arte? Qual seria o papel da arte para retomar as memórias? O brincar é uma forma de arte? Essas reflexões foi o alimento de nosso trabalho e culminaram na vivência que realizamos na rua. Alguns estudiosos nortearam e fundamentaram nossa pesquisa, como Manoel de Barros, Ecléa Bosi, Philippe Ariès, Renata Meirelles, Maria Amélia Pereira, Fayga Ostrower, Vanessa Coutinho, entre outros. Como pesquisadoras e apreciadoras da cultura popular, buscamos também reavivar esse imaginário poético de cidades que aos poucos estão perdendo suas singularidades para um mundo moderno e massificado. Nossa proposta é oferecer nossas ferramentas (a Arte) para que as pessoas cavem seus achadouros, relembrem costumes, cantigas, brinquedos, cheiros e sabores, que são peculiares e próprios de cada região, ou que se misturaram numa bagagem de muitos caminhos percorridos até agora.
    Ao realizar a experiência na rua, numa avenida fechada aos domingos para o lazer, nos deparamos com um público diversificado em gênero, idade, regionalidade, etnia e nacionalidade. Isso nos proporcionou vivências múltiplas e singulares, além de uma troca muito rica entre nós mesmos, como provocadores, e no público, que não participou apenas como espectador, mas como atuador. O nosso universo convidava inicialmente as crianças, aos poucos os adultos sentiam-se pertencentes e sutilmente expressavam suas sensações. Os espaços eram provocantes desde os materiais até a convivência. Esta vivência que durou cerca de três horas e cerca de duzentas pessoas puderam interagir de alguma forma. Como a proposta é criar com diferentes materialidades, as pessoas puderam levar para si o artefato criado e nos deixaram por escrito as lembranças que foram evocadas durante esta ação.
    Realizamos o a vivência num domingo de manhã na Avenida Paulista em São Paulo, e em uma noite no Instituto Singularidades, também em São Paulo. Pensamos cada detalhe do ateliê ambulante para que possamos circular com ele em diversos espaços abertos ou fechados, e em diversas áreas da cidade seja em regiões centrais ou periféricas.
    O público-alvo é bastante diversificado. Todos interessados podem fazer parte como espectadores e atuadores. Não há restrição de idade, gênero e classe social. Como trabalhamos com diferentes estímulos: visuais, sonoros, sensoriais, olfativos e gustativos, cada pessoa acaba encontrando seu canto preferido. Alguns escolhem a paciência e complexidade dos bordados, outros brincam com a música, dançam, outros querem escrever suas memórias, outros se entregam a colorir com aquarela, construir máquinas, experimentar texturas com massinhas, alguns preferem os sabores, outros se deleitam nas memórias captadas nos monóculos, outros querem apenas observar e por aí vai...
    “O brincar é o combinar das potencialidades humanas, do coletivo, mas o resultado dessa mistura é puramente pessoal”, como disse Maria Amélia Pereira. Uma de nossas perguntas era saber se as pessoas seriam capazes de se despir de suas máscaras sérias e “entrariam de cabeça” nas propostas ofertadas. Tanto entraram como deixaram relatos emocionados de como foi bom fazer parte desse projeto. Fazendo-nos perceber que o caminho que escolhemos trilhar é um campo vasto onde há muito que percorrer, para o estudo do ser humano sensível, suas relações afetivas com o mundo e consigo mesmo. A pergunta que nos instigou a iniciar essa jornada, a construção do ateliê e a experiência realizada na rua legitimam nossa busca como educadoras, e nos impulsionam a levar o ateliê ambulante para muitos cantos. Demos continuidade a pesquisa, criando uma página nas redes sociais para que pudéssemos dialogar com o público e compartilhar memórias e práticas artísticas. Também elaboramos uma forma de circular o ateliê abordando cada linguagem separadamente, porém por conta da pandemia tivemos que adaptar o projeto para o espaço virtual.
    Realização de uma intervenção do Ateliê de Ambulante de Achadouros de infância que será realizada no ateliê Sementeira localizado na Vila Natal. Para esta intervenção serão convidadas algumas pessoas para participação, cumprindo as normas de proteção e prevenção relativos a Covid-19. A duração desta intervenção é de aproximadamente 2 horas. A ser realizada no mês de janeiro de 2021. R$ 2.000,00; A intervenção realizada no item anterior será filmada e disponibilizada no canal do Youtube do Ateliê de Achadouros. R$ 1.000,00.
    R$ 3.000,00

    Informações: 11 4798-6900
    E-mail: culturamogi@pmmc.com.br

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