Aldir Blanc
Edital nº 019/2020: Projetos Culturais

PROJETOS CULTURAIS 3
Projetos grande porte

Classificado 23º Selecionado 47,00 pontos Premiação R$ 25.000,00

  • Cia do Escândalo - 25 anos de Teatro em Mogi

    Proponente: Manoel Lucena Mesquita Junior

  • A Cia do Escândalo é um grupo de teatro que foi fundado em dezembro de 1995, por um grupo de jovens atores e atrizes amadores com o sonho de fazer teatro que impactasse o seu entorno e contribuísse com a reflexão social de seu meio. Ao longo desses 25 anos de atuação, o grupo teve muitos integrantes, e como grupo independente de teatro provou a dor e a delícia dessa alcunha “grupo independente de teatro”. Montou e apresentou 14 obras teatrais, articulou e produziu ou coproduziu 03 festivais internacionais de teatro na cidade (FIIT – Festival Internacional de Itinerâncias Teatrais e Festival Knots-Knudos-Nós), 01 seminário internacional de pesquisa teatral e 02 festivais multiculturais (Vitaminas e Festival Dente de Leão). Fundou um território cultural em 2006, o Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania, que foi responsável por inspiração e transpiração cultural intensa na cidade desde então, com atividades de residência de artistas e coletivos artísticos no espaço físico, desenvolvimento e formação de artistas e coletivos artísticos e circulação, até agora, de mais de 1000 obras artísticas e culturais na cidade. Além disso, o grupo se envolveu desde o início de sua trajetória na militância pela arte, cultura e teatro. Esse envolvimento garantiu participação em importantes movimentos na cidade e região. Entre eles, ajudou a fundar o MAL (Movimento Artístico Livre) e o Corredor Cultural (composto por coletivos da Zona Leste de São Paulo, Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, Jacareí, São José dos Campos e Litoral Norte). E participou ativamente do FLIGSP (Fórum do Litoral, Interior e Grande São Paulo), do COMUC (Conselho Municipal de Cultura de Mogi das Cruzes), dos Movimentos Nacional e Estadual de Pontos de Cultura, além de outros movimentos mais efêmeros ao longo da história do grupo. Assim, a Cia do Escândalo, tem misturado em sua trajetória a produção teatral, de espetáculos construídos coletivamente e a partir de reflexão social e política do mundo moderno, e a atuação para uma melhoria das políticas públicas para arte e cultura na cidade de Mogi, região do Alto Tietê, estado de São Paulo e país. Isso tudo, além de reflexão e criação artística, pondo a mão na massa do ponto de vista da ação.
    A trajetória de um grupo de teatro independente que consegue manter seu trabalho ininterruptamente durante 25 anos, por si só já traz em si um singularidade e originalidade intrínsecas ao trabalho. Além disso, pode-se dizer que a singularidade e a originalidade da produção da Cia do Escândalo está em utilizar historicamente como matéria-prima para suas obras as relações construídas por seus integrantes com o meio em que vivem e em que atuam e os impactos sofridos nesse contexto. Assim, por exemplo, o primeiro espetáculo do grupo, "Suicida" (1996), usa como base uma notícia de jornal de um adolescente que tirou a própria vida aparentemente por não aguentar o contexto emocional de abuso em que vivia. Mais adiante, em 1998, época em que havia uma guerra declarada e sem limites éticos pela audiência televisiva, o grupo monta "O Tribunal da Santa Ignorância", que discute a manipulação social pelos meios de comunicação. Em 2002 "Fratelo" discute o "apodrecimento" das relações humanas na sociedade. Já em 2009 "Intolerância" faz menção à escalada da violência nas comunidades urbanas. 2011 traz "O Sequestro do Secretário de Cultura" em que o grupo discute o papel da sociedade civil na melhoria das relações entre povo e poder público. Encerrando os exemplos, em 2016 "Inimigo" se baseia no livro O Abril Despedaçado, de Ismail Kadaré, para discutir a crescente polarização política e social nos dias atuais. Dessa maneira, pode-se dizer que o grupo tem se mantido numa linha de trabalho, pesquisa e criação coerente e singular na região, buscando fazer leituras sobre temas relevantes para a comunidade e trazendo obras artísticas que contribuam com a visão crítica do espectador. Além disso, há o trabalho na militância, numa região carente de ações e políticas públicas para a arte e cultura. Essas ações também dialogam, buscam coerência e fazem parte do trabalho artístico e teatral do grupo. De maneira que, ao olhar para os 25 anos de trajetória da Cia do Escândalo, já é impossível dissociar o trabalho artístico do trabalho sócio-cultural.
    Ao longo desses 25 anos a Cia do Escândalo tem realizado uma pesquisa continuada em seu trabalho de grupo, claramente tendo evoluído, ao longo dos anos, tanto do ponto de vista da construção de dramaturgias, da encenação e do trabalho de atrizes e atores. Além da pesquisa, que nos últimos anos tem se fixado no legado de Jerzy Grotowski (Arte como Veículo) e muito influenciado pelo pensamento do italiano Eugênio Barba e sua contribuição com a Antropologia Teatral, a Cia também bebe cada vez mais da fonte de Augusto Boal, com seu pensamento e prática do Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas, sobretudo com relação ao papel do teatro na sociedade. “Todo teatro é necessariamente político, porque políticas são todas as atividades do homem, e o teatro é uma delas”, diz Boal na abertura de seu livro mais famoso. Sendo assim, o grupo se reconhece nesse propósito teatral e social. Para isso tem buscado e encontrado ecos na pesquisa e trabalho de muitas pensadoras e pensadores, fazedoras e fazedores de teatro. Por exemplo, as obras do grupo, do ponto de vista da dramaturgia e da encenação, sempre usaram um processo coletivo de criação e construção, a partir da reflexão e debate sobre os temas-objetos de análise. Na caminhada o grupo se deparou e encontrou respaldo na pesquisa do autor Rubens Rewald, que em seu livro Caos/Dramaturgia, registra, analisa, avaliza e conceitua esse tipo de processo de construção teatral em que “o ruído, o caos, a flutuação e a imprevisibilidade” são fatores importantes para desenvolver as obras. E a Cia do Escândalo, ano após ano, vem buscando se aprofundar nesse processo e criar bases metodológicas para isso. Já no trabalho de pesquisa das atrizes e atores, o grupo tem encontrado coerência no equilíbrio entre a rotina de treinamentos físicos e vocais individualizados e a pesquisa criativa na relação entre os indivíduos em cena. Complementando, outro ponto presente aos últimos trabalhos diz respeito à “dramaturgia do espectador”, termo pinçado da livro “Queimar a Casa - Origens de um Diretor”, do diretor e autor italiano Eugenio Barba. Assim, ao longo do tempo, o grupo tem criado uma série de relações naturais com figuras do teatro mundo afora, algumas mais duradouras, outras mais efêmeras, mas tão importantes quanto. Todas essas relações surgiram de vivências, imensões ou ações coletivas da trajetória da companhia. Essas relações possibilitam a troca e também tem ajudado o grupo a avançar em sua pesquisa teatral. Entre eles, pode-se destacar alguns artistas e coletivos internacionais, como o mestre Eugênio Barba, do Odin Teatret (Dinamarca), o Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards (Itália), o Contraelviento Teatro (Equador), o Gabriel Penner (Celula Cype e Congresso Contexto/Typea - Argentina); e nacionais como os Contadores de Mentira (Suzano-SP), o Grupo Matula de Teatro (Campinas-SP), o ator e diretor Donizeti Mazonas (Mogi das Cruzes-SP) e o grupo Pombas Urbanas (São Paulo-SP), entre outros.
    O impacto cultural da trajetória da Cia do Escândalo é bem relevante na cidade e na região do Alto Tietê. Como já foi dito, são 25 anos de trabalho ininterrupto, com 14 obras teatrais, 03 festivais internacionais de teatro em parceria com outros artistas e coletivos (FIIT – Festival Internacional de Itinerâncias Teatrais e Festival Knots-Knudos-Nós), 01 seminário internacional de pesquisa teatral também em parceria e 02 festivais multiculturais (Vitaminas e Festival Dente de Leão). Difícil mensurar quantitativamente o público presente às atividades e apresentações produzidas pelo grupo, mas apenas no Galpão Arthur Netto, território criado e co-gerido pela Cia do Escândalo há 14 anos, já passaram mais de 100 mil pessoas, mais de 1000 obras artísticas e culturais, mais de 1000 pessoas estiveram presentes à oficinas, cursos, workshops e vivências direta ou indiretamente ligados ao projeto. Nos festivais itinerantes de teatro que a cia realizou, por exemplo, houve ações nos bairros que impactaram sobremaneira as comunidades envolvidas. Dentre as atividades provocadas pela Cia do Escândalo houve também mobilizações regionais, como o 1° Encontro Regional de Teatro, em 2010, e, mais recentemente, o 1° Encontro de Pedagogia Teatral do Alto Tietê. Entre seus espetáculos, vários deles causaram debates produtivo entre o público presente às apresentações e classe artística em geral, podendo ser considerado aí também o impacto da provocação e debate. Inclusive várias apresentações, sobretudo dos últimas 05 espetáculos, foram procedidas de rodas de conversa sobre os temas das obras.
    A história da Cia do Escândalo tem início em dezembro de 1995 e ao longo desses 25 anos traz inúmeras ações. Aqui um resumo com as principais: Espetáculo Teatrais (Estreias) • POR FAVOR, NÃO MORDAM AS FRUTAS ARTIFICIAIS – 2019 • FRATELO - 2018 • INIMIGO - 2016 • O SEQUESTRO DO SECRETÁRIO DE CULTURA – 2011 • TRIBUNAL DA SANTA IGNORÂNCIA - 2010 • INTOLERÂNCIA – 2009 • PUTISMO - 2008 • FRATELO – 2002 • HAI KAOS – 2000 (parceria com Contadores de Mentira) • HAPPY (Um Happening ao Meio, Meio Feliz) - 1999 • TRIBUNAL DA SANTA IGNORÂNCIA – 1998/99 • MINTCHIIIIRA!!! - 1998 • FIM DE CASO – 1997 (parceria com Marrakesh Produções Artísticas) • EU TE AMO - 1997 • SUICIDA – 1996 Festivais • Festival Dente de Leão – Sobre Romper o Asfalto para Provar Ser Existente - 2019 • Festival Internacional Knots-Nudos-Nós – 2017 (parceria com vários coletivos da região) • FIIT - Festival Internacional de Itinerâncias Teatrais – 2ª Edição - 2014 (parceria com a Clara Trupi de Ovos y Assovios) • FIIT - Festival Internacional de Itinerâncias Teatrais – 1ª Edição - 2013 (parceria com a Clara Trupi de Ovos y Assovios) • Vitaminas (Festival Multi Cultural) – 1999 Encontros • 1°, 2° e 3° Encontros Regionais de Teatro – 2010 (parceria com vários coletivos do Alto Tietê) • 1° Encontro de Pedagogia Teatral do Alto Tietê - 2019 Território Cultural • Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania - 2006
    Durante todo esse tempo, em todos as ações promovidas, desde a construção dos espetáculos, passando pelos festivais, encontros e mobilizações e, principalmente chegando ao Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania, a Cia do Escândalo tem por princípio as ações afirmativas. Vários dos espetáculos já descritos podem versar sobre isso, mas como exemplo podemos citar o PUTISMO, que conta a história de um prostíbulo em que mulheres narram suas histórias de vida profissional e expõem o desejo de estarem realizando outras atividades (que não a prostituição) para conseguir sustento. Mas quando se fala em ações afirmativas não há como fugir do exemplo do território cultural Galpão Arthur Netto e Cultura e Cidadania, fundado e co-gerido pela Cia do Escândalo, e que tem como premissas a luta contra discriminação social e a igualdade de condições, além da luta por políticas públicas realmente democráticas para a arte e cultura, a descentralização geográfica do acesso às ações nessa área e a valorização da classe artística na cidade. Entre outras pautas. Na prática, podemos citar o esforço da Cia do Escândalo, de maneira ininterrupta, ao longo do tempo, para garantir que haja acesso gratuito ou por preços populares às ações culturais e artísticas ocorridas no Galpão. Assim, pode-se dizer que a grande maioria (cerca de 80%) das atividades promovidas no território cultural foram gratuitas ou por preços realmente populares. Entre elas podemos destacar as vagas para as Oficinas Livres de Circo e Teatro, para vivências e workshops, para acesso a apresentações de espetáculos e exposições ocorridas na casa. Além disso, o Galpão, a partir do posicionamento da Cia do Escândalo e de seus outros coletivos e artistas gestores, promove ou ajuda a promover uma série grande de atividades de valorização da cultura do povo preto, luta contra a violência contra a mulher e empoderamento das mulheres, valorização da cultura brasileira, Luta a favor das causas LGBTQIA+, entre outros. Pode-se dizer, como já foi justificado anteriormente, que esses temas fazem parte do DNA do grupo e são parte importante do que ajuda a mover adiante o trabalho e as criações da Cia do Escândalo.
    A permanência do projeto do ponto de vista sócio cultural já foi amplamente mencionada, sobretudo do ponto de vista da criação e continuidade do território do Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania. Todas as pessoas formadas, iniciadas artisticamente ou impactadas pelos cursos, oficinas, vivências e workshops e outras atividades e formação artística e teatral representam um pouco da permanência do trabalho e projetos da Cia do Escândalo na vida pessoal e profissional dessas pessoas. Especificamente nas atividades de formação teatral a Cia do Escândalo, que idealizou e desenvolve o projeto da Oficina Livre de Teatro há mais de 10 anos essa permanência pode ser bastante medida. Através desse projeto vários aprendizes adentraram no campo teatral, vindo a se tornarem profissionais, acadêmicos(as), pesquisadores(as), atrizes, atores, iniciadoras(es) de coletivos teatrais, entre outros. Do ponto de vista da militância por políticas públicas os resultados de avanço na região pode-se dizer que tem também uma contribuição direta do posicionamento da Cia ao longo do tempo, alinhada a outros parceiros históricos da região, como Contadores de Mentira, Teatro da Neura, Associação Cultural Opereta, Clara Trupi de Ovos y Assovios, Grupo Jabuticaqui, Casarão da Mariquinha, entre muitos outros. Mas talvez o principal a ser mencionado nesse quesito tem a ver com a própria história do grupo, que serve de exemplo, na cidade, na região, no estado e no país, para novos(as) artistas, provando a importância da continuidade do trabalho de teatro de grupo e da pesquisa continuada nesse sentido. Saber que a Cia do Escândalo existe há 25 anos, olhar para essa história intensa e produtiva e que esse trabalho e energia continuam vigorosos, sem dar mostras de interrupção é também prova de permanência e continuidade.
    Publicação de livro e-book, com histórico do grupo, depoimentos de integrantes e ex-integrantes e 04 textos dramatúrgicos já encenados pelo coletivo. R$ 9.000,00; Realização de 02 apresentações on-line de leitura encenada do espetáculo “O Sequestro do Secretário de Cultura”, com bate-papo posterior com artistas participantes da criação coletiva da obra. R$ 3.000,00.
    R$ 12.000,00

    Informações: 11 4798-6900
    E-mail: culturamogi@pmmc.com.br

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