O projeto “Viagem através da leitura” foi o conjunto de apresentações teatrais de um espetáculo que teve como objetivo despertar e estimular o hábito de leitura. O público alvo era composto de alunos da rede pública de ensino em Mogi das Cruzes. A faixa etária atingida foi de crianças entre 07 e 14 anos de idade. Fazendo uso da linguagem da mímica em performance solo, o ator representava diferentes personagens que surgiam, na fantasia, de dentro de livros espalhados pelo cenário. O ator surgia em cena portando uma mala, como um viajante, e os livros espalhados pelo chão chamavam sua atenção. Ao abrir cada um deles, um personagem de diferentes gêneros literários adquiriam vida, caracterizados por adereços e peças de figurino retirados da mala. A trilha sonora gravada estabelecia o clima e dava suporte às ações. O espetáculo foi apresentado ao longo dos anos de sua existência com pequenas variações, mas o esqueleto principal da costura dos esquetes destacava o gênero Aventura (cena: Indiana Jones), Ficção científica e Ciências (cena: O pouso do Homem na Lua), Romance (cena: A namorada), Comédia (cena: A carta de Charles Chaplin), O mundo dos quadrinhos (cena: O Super-herói) e O mundo do Circo (cena: A bexiga). O tempo total das apresentações, 30 minutos, foi pensado para caber no período de uma hora aula, contando o deslocamento dos alunos até a área de cena. No total 5 apresentações foram realizadas em 2019.

A originalidade do projeto foi traçar o paralelo entre a literatura e outras linguagens artísticas, como o teatro, a mímica especificamente, e a trilha sonora, representando a música. A mímica, por si só, é uma linguagem pouco explorada nas artes cênicas em Mogi das Cruzes. O ator Silvio de Souza é praticamente seu único representante ativo dessa arte na cidade. A linguagem delicada, ingênua e singela da mímica desperta um quê diferente na percepção do público, levando a um sorriso constante, quando não gera gargalhadas. De imediato, a associação com o cinema mudo e tempos mais inocentes é estabelecida. O espectador ativa seu lado criança e fica mais receptivo. E devemos reconhecer que a infância tem se tornado cada vez mais curta e contaminada pelo mundo adulto. A preocupação em estimular o hábito da leitura em tempos atuais, em que todas as gerações se voltam somente para os textos curtos e duvidosos das telas dos celulares, é um mérito a ser considerado.

Foi necessária uma pesquisa no sentido de detectar que gêneros literários deveriam ser abordados. As preferências das crianças deveriam ser privilegiadas de forma a gerar empatia com o espetáculo. Na área da mímica, o ator, que é autodidata, vem se aprimorando através da observação de mestres da arte, como os britânicos Buster Keaton e Charles Chaplin, o francês Marcel Marceau, o norte-americano Harpo Marx, os brasileiros Denise Stoklos e Miqueias Paz e outros expoentes. A mímica é a arte da observação, e remonta à Grécia Antiga. Uma linguagem clássica que deve ser preservada.

Por todos os motivos acima citados, a receptividade do público foi sempre muito positiva e gratificante. Breves bate-papos ao final de cada apresentação revelaram o entusiasmo de frequentar mais as bibliotecas das escolas. Professores e alunos pareceram ganhar um sopro renovador na prática da leitura. Quando apresentado fora de escolas, em eventos diversos, o espetáculo teve um caráter maior de entretenimento, sem deixar de plantar suas sementes.

”A viagem através da leitura” teve sua estréia em 2001 e até 2019 percorreu escolas em bairros e distritos como Vila Nova União, Jundiapeba, César de Souza e outros. Não há registro de datas, mas somente de imagens. Versões “pocket” foram apresentadas em eventos diversos, no Theatro Vasques e no Centro Cultural.

É um projeto para crianças e adolescentes até 14 anos, foram realizados em escolas públicas e instituições gratuitamente, acessando escolas em bairros e periféricos.

A quase vinte anos da estréia, passado o período de isolamento social pela pandemia, o espetáculo voltará a ser apresentado em escolas da cidade.