Aldir Blanc
Edital nº 019/2020: Projetos Culturais

PROJETOS CULTURAIS 3
Projetos grande porte

Classificado 11º Selecionado 50,00 pontos Premiação R$ 25.000,00

  • KINJO: música, identidade e natureza

    Proponente: Victor Uehara Kanashiro

  • KINJO é um projeto multiartístico sobre identidade e natureza, realizado pelo cantor, compositor e pesquisador Victor Kinjo. De caráter transdisciplinar, envolveu pesquisa artística e socioantropológica nas áreas da música, performance, dança, literatura, pintura e estudos culturais. Realizado entre 2015 e 2020, de forma independente, um de seus principais resultados foi o lançamento do disco KINJO (Matraca/YB Music, 2017), considerado um dos 20 Melhores da Música Brasileira em 2017 e pelo qual o artista foi indicado ao Prêmio da Música Brasileira 2018 como Melhor Cantor na Categoria Regional. As nove canções autorais do disco foram compostas entre 2002 e 2016, algumas delas já em Biritiba-Ussu, na zona rural de Mogi das Cruzes, onde o artista co-fundou a SAMAUMA Residência Artística Rural e decidiu viver e trabalhar desde 2015. Musicalmente falando, o disco KINJO mescla sonoridades da música regional brasileira com o pop, o rock e referências de sua ancestralidade nipônica e uchinanchu (o povo indígena de Okinawa/Japão). A pré-produção do disco foi feita em imersão criativa em meio à Mata Atlântica, nesse espaço rural em fluxo com o urbano, e as gravações foram realizadas nos estúdios Lebuá e YB Music em São Paulo. Victor Kinjo pintou em tinta óleo a capa, contracapa e outros quadros que completaram a série Autoetnografias (iniciada em 2013) e compuseram também o encarte do disco. Em 2016, o artista apresentou shows de pré-lançamento do disco no World Uchinanchu Festival em Okinawa/Japão e gravou o primeiro clipe do projeto "O Caos e a Flor" sob um pôr do sol numa praia da Ilha de Zamami. O álbum foi lançado oficialmente em formato físico e virtual em 2017, no Al Janiah em São Paulo, e recebeu elogios de crítica e público. KINJO foi considerado pela Revista Arte Brasileira como "um novo olhar para música brasileira”. Já o crítico Tarik de Souza, publicou artigo no site do IMMUB (2018) elogiando o trabalho e destacando a originalidade dessa “MPB diaspórica”, “música ancestral e contemporânea”. Sobre o show, a fã Tábata Araújo comenta “Obrigada por esse trabalho que tanto me toca... pela emissão de energias que curam corações e almas, que trazem sanidade mental e espiritual nestes dias tão desafiadores.” O show do disco teve também um intenso trabalho de preparação corporal e direção cênica, conduzida por Eduardo Colombo. Desde então, foram realizados mais de 50 shows e participações em espaços culturais e universidades em São Paulo, Mogi das Cruzes, São José dos Campos, Bauru, São Carlos, Santos, Registro, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Brasília, Recife, João Pessoa, Natal, Okinawa (Japão), Nova York e Boston (EUA). Victor Kinjo prepara-se agora para o lançamento de seu segundo disco, Terráqueo, que aprofunda as questões temáticas e musicalidades do disco KINJO.
    O Projeto KINJO nasceu de uma necessidade imensa de cantar e expressar-se por meio das artes. Após 13 anos de formação universitária, entre graduação, mestrado e doutorado, a música e as artes colocaram-se como modo de produção de memória, conhecimento, identidade e comunicação. O trabalho foi um dos resultados artísticos da tese de doutorado do artista pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Ciências Socias da Universidade Estadual de Campinas. Naquela época, Kinjo (que ainda assinava como Victor Kanashiro) começou um estudo sobre o tema do homoerotismo na obra do escritor japonês Yukio Mishima. Para isso, utilizou uma metodologia emergente na antropologia e literatura chamada autoetnografia. Aprofundando leituras e refletindo sobre sua própria condição de LGBTQI+ asiático-brasileiro de ancestralidade uchinanchu (o povo indígena do Japão), Kinjo passou a problematizar os estereótipos do “japonês” no Brasil e aprofundar-se sobre a história do antigo Reino de Ryukyu, o nome da província de Okinawa até o final do século XIX, quando ainda era um reino independente do Japão. A história da ocupação militar de Okinawa do pós-guerra pelo exército estadunidense e sua persistência até os dias de hoje provocaram KINJO a refletir, por meio da música ancestral e contemporânea de Okinawa, sobre a invisibilidade desse devir indígena asiático e diaspórico. Paralelamente, o pesquisador realizou uma residência artística sobre cantos de tradição no Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards, na Itália. Como resultado desse intenso e singular processo, além da tese de doutorado “Cantos da Memória Diaspórica” e do início da produção da série de pinturas “Autoetnografias”, Kinjo concebeu as performances NOMES, com Tiago Viudes e Eduardo Colombo, e SPIRO, junto ao Biloura Performing Arts (Itália). Tais obras ritualizavam performativamente um movimento de transformação, de morte e renascimento. Por isso, após essas performances, o artista adotou o nome artístico KINJO e passou a dedicar-se ao projeto em questão. Em 2018 e 2019, o artista foi convidado a participar do Fórum das Nações Unidas para Assuntos Indígenas, na sede da ONU, em Nova York, integrando a delegação uchinanchu. Nessa ocasião, cantou e palestrou nas Universidades de Harvard e Nova York para falar de sua experiência pessoal, socioantropológica e artística. Em 2020, foi contemplado como pesquisador colaborador da Japan Foundation e deve apresentar reflexões desse trabalho em Tóquio e Okinawa, lançando seu novo trabalho.
    Sim, o trabalho inclui pesquisa, vivência e imersão. Pode-se dizer que acontece de modo transdisciplinar, organizado em dois eixos interligados: 1. Pesquisa socioantropológica; 2. Pesquisa e criação artística. O primeiro eixo acontece a partir de metodologias das Ciências Sociais como revisão bibliográfica, reflexão teórica, coleta de dados empíricos por meio análise de documentos, etnografia, autoetnografia e pesquisa baseada em arte. Nesse sentido, dialoga com abordagens teóricas como os estudos culturais, teoria queer e diálogos interdisciplinares sobre ambiente, cultura e sociedade. E interage fortemente com a pesquisa acadêmica. O segundo eixo acontece por meio de vivências e imersões criativas na SAMAUMA Residência Artística Rural, espaço co-fundado entre os distritos de Biritiba-Ussu e Taiaçupeba, na zona rural de Mogi das Cruzes. Nesse local rodeado de Mata Atlântica, o processo criativo de canções, pinturas e performances acontece em interlocução com artistas parceiros convidados, por meio de práticas continuadas de corpo-voz, estudo de instrumentos como piano, violão, sanshin e koto, e improvisação. Toda a concepção e pré-produção do disco KINJO, por exemplo, aconteceu em imersão nesse espaço, junto aos produtores musicais e músicos parceiros do projeto. A série de pinturas “Autoetnografia”, da qual foram escolhidas as obras que forma capa, contracapa e encarte do disco também foi produzida em imersão pelo artista. Além do disco e dos shows, Kinjo publicou artigos em revistas acadêmicas e, em 2020, lançou seu primeiro livro, “Quem são Mishimas?”, pela Editora Autêntica. Essa característica de pesquisa permitiu que o projeto cultural aqui proposto tenha sido apresentado em shows ou palestras-shows realizados em centros culturais, como o SESC, festivais e universidades como Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal da Paraíba, Instituto Federal do Rio Grande do Norte.
    De 2015 até o presente, foram realizados mais de 40 shows, 20 palestras e oficinas em espaços culturais, universidades, parques e festivais em cidades de todo território paulista, além de Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Mato Grosso, Brasília, Japão e Estados Unidos. Nesse processo, envolveu mais de 50 artistas, entre músicos, produtores, diretores de cena, figurinistas, fotógrafos, técnicos, entre outros. O público estimado foi de pelo menos 4000 pessoas presencialmente e mais de 15.000 virtualmente.
    Toda a concepção e desenvolvimento criativo do projeto foi realizado na SAMAUMA Residência Artística Rural, entre os distritos de Biritiba Ussu e Taiaçupeba. Inclusive, grande parte das composições e arranjos foi inspirada nas vivências na paisagem exuberante da Mata Atlântica. Aqui, foram realizados diversos eventos com apresentação musical desse trabalho, bem como oficinas e ensaios abertos a fim de compartilhar desenvolvimentos da pesquisa. O artista se apresentou também em alguns dos mais importantes espaços culturais de Mogi das Cruzes como no Theatro Vasques (Festival da Canção), Centro Cultural de Mogi das Cruzes (Virada Cultural e Festival Teatro Tablado), Galpão Arthur Netto e Casarão da Mariquinha. Da zona rural de Mogi das Cruzes, o trabalho foi apresentado por todo Estado de São Paulo, além de Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Mato Grosso, Brasília, Japão e Estados Unidos
    Esse trabalho trata de representatividade LGBTQI+ asiático-brasileira uchinanchu. Procura, por conta disso, aumentar a visibilidade da diversidade LGBTQI+ e de identidades amarelas, tema ainda pouco tratado no Brasil. Nesse campo, Kinjo participou de inúmeras atividades ligadas a esses movimentos como a I Mostra de Artes LGBT de Mogi das Cruzes, o Evento Yuntakukai sobre identidade indígena de Ryukyu ou a palestra sobre a presença do nipo-brasileiro na música brasileira. Além disso, Kinjo procura, sempre que possível, incluir tradutores de libra e audiodescrição em seus eventos, como foi seu último show no Itaú Cultural.
    Apesar das dificuldades financeiras e falta de patrocínios em muitos momentos desse projeto, Kinjo continua ganhando cada vez mais fãs, apoio e visibilidade. O artista prepara-se agora para o lançamento do seu segundo álbum Terráqueo: feito de terra e água. O cenário da pandemia colocou novos desafios e oportunidades para o trabalho artístico, mas continuando a reunir pesquisa e criação artística, Kinjo está elaborando um plano de comunicação para o lançamento desse trabalho a partir da produção de vídeo-clipes e ampla difusão nas redes sociais.
    Atualização do website do artista/projeto. R$ 3.396,61; Disponibilização de disco KINJO para download gratuito. R$ 4.000,00; Divulgação das faixas, clipes e vídeos sobre a pesquisa musical. R$ 4.000,00.
    R$ 11.396,61

    Informações: 11 4798-6900
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