O auto da compadecida foi escolhido com unanimidade no grupo de teatro Turma das 11 como montagem do grupo em 2019 mas a escolha foi tão contagiante que o texto ganhou o apoio e pesquisa dos demais grupos artísticos oriundos da Escola de Artes da AJPS, agregando a dança, o canto e o circo na montagem final. A riqueza da obra de Ariano Suassuna, um dos maiores dramaturgos brasileiros, motivou uma pesquisa ampla que foi desde os fundamentos da comédia, passando pela arte barroca, arte pernambucana e o movimento armorial. O que se obteve como resultado, foi um espetáculo que elogia a arte e a cultura de uma das mais ricas regiões brasileiras e que empresta às demais, por meio de seus muitos migrantes, o colorido, o erudito e o popular. O espetáculo estreou em dezembro de 2019 no Theatro Vasques - Mogi das Cruzes e pretendia-se apresentá-lo novamente no mesmo local e realizar uma circulação em alguns bairros da cidade, o que foi impedido pela pandemia de COVID 19.

Assim como Ariano Suassuna atravessa em sua obra aspectos eruditos e populares, tendo o Auto da Compadecida, especificamente um lugar afetivo no imaginário brasileiro, e ainda, em função da belíssima versão feita para TV e cinema que reúne nomes como Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele e Selton Mello, a montagem feita pela Turma das 11 também atravessa várias linguagens, reunindo além do teatro, a dança (balé clássico e danças urbanas), o circo com as acrobacias solos e palhaçaria e a música que é executada ao vivo e além de temas conhecidos agrega composições exclusivas para a montagem.

O processo de pesquisa e montagem se iniciou em abril/maio de 2019 e culminou com a apresentação em dezembro do mesmo ano.. Uma das primeiras preocupações para os procedimentos de montagem foi justamente o de descolar a nossa obra da referência cinematográfica, para que não fosse uma tentativa pálida de transposição de uma linguagem para outra. Outro aspecto que recebeu muita atenção foi a questão do sotaque nordestino. Houve um cuidado constante para que o sotaque não ganhasse ares de caricatura ou arremedo mal feito. Os atores se dedicaram a ouvir e a entender a musicalidade do sotaque nordestino através de seus entornos (pais, parentes, conhecidos vindos do Nordeste) e por meio de autores, cantores e artistas nordestinos. A pesquisa para o espetáculo também se desdobrou em outras frentes como o movimento armorial (que orientou a direção musical), a arte barroca que inspirou figurinos do núcleo sacro, a iluminação com seus aspectos de claro e escuro e o carnaval pernambucano em seus vários aspectos e referências.

A montagem de O auto da compadecida conta com cem integrantes, entre atores, bailarinos e músicos e estreou com lotação máxima do Theatro Vasques. A cada montagem os participantes são arremessados a novas descobertas e protagonismos. Primeiro sobre si, suas qualidades e capacidades e depois em relação aos outros, aos grupos, as maneiras de lidar com as diversidades e as adversidades que surgem. Outro aspecto importante é que cada vez mais os espetáculos dos grupos da Escola de Artes da AJPS, onde a Turma das 11 está inserida, vem ganhando o público da cidade, não apenas de pais e amigos mas de pessoas que, por meio das divulgações, se interessam em assistir e que saem profundamente impactadas com a qualidade do que lhes é oferecido, o que reafirma o compromisso e a responsabilidade de cada trabalho

14/12/2019 - Theatro Vasques - público: 300 pessoas. (a agenda de reapresentação e circulação prevista para 2020 foi suspensa devido a pandemia de COVID 19 )

A turma das 11 é uma grupo que se originou a partir das aulas de teatro oferecidas pela Escola de Artes da AJPS, localizada em uma bairro periférico de Mogi das Cruzes e que oferece formação artística, cultural e cidadã a crianças e jovens. É uma premissa do lugar incentivar o protagonismo em seus participantes, buscando que as qualidades ali descobertas, as capacidades afirmadas sejam também valores que cada um carregue consigo em sua vida familiar e social. Em 12 anos de trabalho da Escola de Artes e em 25 desde a criação da Associação de Moradores temos diversos exemplos de alunos que hoje se profissionalizaram e tem uma carreira em grupos da cidade, fora dela e até no exterior e ainda, outros tantos, que mesmo não seguindo o caminho da arte mantém uma relação afetiva com o lugar e com as pessoas e são, sem dúvidas, pessoas mais solidárias e alinhadas com uma vida onde o bem comum é levado em consideração.

Pretende-se que sendo seguro retornar as apresentações presenciais, o espetáculo possa cumprir agenda de apresentações. As aulas e a manutenção do grupo de teatro é um projeto permanente na Escola de Artes da AJPS que todo ano abre novas vagas para os interessados.